O lado sombrio da força: Desafios na avaliação e pesquisa de traços socialmente indesejáveis

Entidade:
IBAP

Coordenador(a):
Ana Deyvis Santos Araújo Jesuíno

Financiador do coordenador:
CAPES

Resumo:
A avaliação da personalidade envolve uma série de dificuldades inerentes as ferramentas utilizadas e as características avaliadas. A forma mais comum de se avaliar personalidade é por meio do autorrelato do sujeito, em que ele responde a escalas que elencam vários exemplos de comportamento que ele possa ter tido, sendo suscetível a respostas socialmente desejáveis. Além disso, alguns traços de personalidade, como antissocial, maquiavelismo, narcisismo e psicopatia são caracterizados por mentirem com frequência e por manipularem as pessoas, o que torna difícil o controle da desejabilidade social dos itens. Dessa forma, é importante conhecer quais instrumentos estão sendo utilizados para avaliação desses traços, bem como se a construção dos mesmos levou em consideração a desejabilidade social dos itens. Desse modo, a presente mesa terá três apresentações, sendo uma acerca da avaliação de maquiavelismo e narcisismo, outro sobre a relação entre autorrelato de traços de psicopatia e desejabilidade social e a terceira irá focar na avaliação de comportamento antissocial.

Eixo:
II: Práticas profissionais da psicologia em contextos sem muros

Processo:
Processos de Avaliação


Apresentações:

Avaliação do Maquiavelismo e Narcisismo: contradições e limitações dos instrumentos
– Natália Costa Simões – CAPES (Coautor: Nelson Hauck Filho)
Dois traços de personalidade que abrangem características como reduzidas competências socio-emocionais e déficit afetivo são o maquiavelismo e o narcisismo.  Tais traços apresentam similaridades na sua fundamentação teórica e estudos empíricos que evidenciam correlações positivas e significativas entre eles. Ainda, cada traço apresenta singularidades, no maquiavelismo destaca-se a orientação estratégica em busca de controle e a desonestidade, e no narcisismo a superioridade e a grandiosidade. As características que envolvem esses traços tendem a ser pouco valorizada e vistas como indesejáveis na sociedade. Com isso, a avaliação deles torna-se um desafio, pois como as características avaliadas não são vistas como desejáveis, os respondentes podem tentar “esconde-las” em um processo de testagem. Existe uma consonância entre estudos que o maquiavelismo e narcisismo são traços socialmente indesejáveis e as peculiaridades da testagem na avaliação dessas características. Entretanto, investigações demonstram uma diversidade de fundamentações teóricas e definições de número de fatores que embasam instrumentos de avaliação desses traços, de modo a questionar se esses instrumentos de fato avaliam a mesma coisa ou se algum deles contempla todas as dimensões desses traços. Além de inconsistência teórica, os instrumentos apresentam diversificação em relação ao número de itens e pouca preocupação com o conteúdo valorativo dos itens, o que pode permitir a manipulação das respostas. O objeto do presente trabalho é apresentar os instrumentos existentes de avaliação do maquiavelismo e narcisismo, e suas contradições teóricas e limitações no processo de testagem

A relação entre desejabilidade social e autorrelato de traços de psicopatia
– Ariela Raissa Lima Costa – CAPES (Coautor: Nelson Hauck Filho – CAPES)
As pessoas que pontuam alto em psicopatia são conhecidas por mentirem e manipularem com frequência elevada. Com isso desenvolveu-se a crença de que tais pessoas seriam mais propensas a responderem testes psicológicos de forma mais socialmente desejável. As respostas socialmente desejáveis ocorrem quando o sujeito modifica suas verdadeiras respostas, para oferecer ao avaliador uma imagem que acredita que lhe trará algum tipo de vantagem. O senso comum vem sendo contestado por evidências empíricas que encontram relações negativas entre essas variáveis, sugerindo que pessoas com altos níveis em psicopatia não manipulam suas respostas mais do que pessoas que níveis moderados ou baixos nesses traços. Um potencial problema no estudo dessa avaliação é que os instrumentos usados para avaliar a desejabilidade social são contaminados por outros traços de personalidade, o que confunde o escore gerado por tais instrumentos. Uma possível solução para facilitar o estudo da relação entre essas variáveis é usar técnicas que consigam diminuir o efeito de outros traços de personalidade nos instrumentos que avaliam desejabilidade social. Assim, o objetivo é apresentar a relação entre essas variáveis a partir de técnicas que visam diminuir o viés de desejabilidade social.

Avaliação do comportamento antissocial: contexto internacional e nacional
– Ana Deyvis Santos Araújo Jesuíno – CAPES (Coautor: Fabián Javier Marín Rueda – CAPES)
O comportamento antissocial (CAS) pode ser compreendido por três perspectivas, a saber a psiquiátrica, violações de normas e regras e agressividade. É caracterizado por traços de Agressividade, Manipulação, Insensibilidade, Desonestidade, Hostilidade, Exposição ao risco, Impulsividade e a Irresponsabilidade. Contudo, o número de escalas que avaliam o CAS em adultos é desconhecido. Nesse sentido, foi realizada uma revisão integrativa para identificar escalas de autorrelato que avaliam o comportamento antissocial em adultos, enquanto fator ou aspecto principal. As buscas foram realizadas em bases de dados nacionais e no Periódicos CAPES, que reúne várias bases internacionais como PsychInfo e Scopus. Encontrou-se 23 instrumentos, sendo cinco nacionais e 19 internacionais. Dos nacionais, apenas 2 tem o comportamento antissocial como foco, sendo que um foi construído com base na teoria da psicopatia e o outro pela aglutinação de 22 escalas internacionais e avalia primordialmente violações às normas. Dos internacionais, sete avaliam psicopatia, sete avaliam transtornos de personalidade e possuem uma subescala que avalia o comportamento antissocial e quatro tem o CAS como foco. Dessas, uma é para o contexto do esporte e outra para o acadêmico, uma tem como foco o comportamento agressivo e a última, pequenas condutas inapropriadas e delitos severos. Pode-se concluir, que não foram encontradas escalas que contemplassem os três aspectos considerados relevantes na avaliação do comportamento antissocial, bem como em relação ao cuidado com a construção dos itens e a desejabilidade social dos mesmos.