Tempos de opressão e euforia: psicologia e educação em conjunturas não democráticas

Entidade:
ABRAPEE

Coordenador(a):
Mitsuko Aparecida Makino Antunes

Financiador do coordenador:

Resumo:
O Brasil vive hoje um regime de exceção, em que as garantias democráticas foram usurpadas por uma série de intervenções no âmbito político, judiciário e econômico, com suas decorrências no campo da saúde, educação e assistência social, impetradas pelo golpe empresarial-legislativo-judiciário-midiático de 2016. O processo societário em curso caracteriza-se pelo desmonte das políticas públicas e dos direitos historicamente adquiridos. Exige-se, pois, que sejam empreendidas análises radicais, rigorosas e de conjunto, segundo proposição de Dermeval Saviani, que explicitem os mecanismos que estão sendo (mais uma vez) utilizados para a concretização desse projeto para o país. Assim, este simpósio propõe-se a discutir as raízes históricas do autoritarismo no Brasil e na América Latina e suas relações com a psicologia e a educação, partindo da análise de Manoel Bomfim sobre a colonização latino-americana e suas implicações para a história social do país. Ainda numa perspectiva histórica, a contribuição de Martín-Baró para a análise da guerra civil salvadorenha e suas relações com a psicologia e a educação. Dessa perspectiva sobre o passado do Brasil e da América Latina, pretende-se empreender uma análise da atual conjuntura do país, caracterizada pelo desmonte de políticas públicas para a democratização do acesso aos bens públicos, em especial a educação, e o estabelecimento de políticas de governo para a educação,que trazem em seu bojo o aprofundamento de desigualdades, em meio ao embate entre as forças de resistência democráticas e a euforia de movimentos conservadores e autoritários.

Eixo:
I – A psicologia e a superação das desigualdades no acesso e qualidade da formação em psicologia

Processo:
Processos Educativos


Apresentações:

Raízes autoritárias da história do Brasil: implicações para a educação e a psicologia
– Mitsuko Aparecida Makino Antunes
Uma análise da atual conjuntura do país e de suas implicações para a psicologia, como ciência e profissão, especialmente em suas relações com a educação, exige a superação de análises parciais e superficiais, buscando na categoria historicidade uma das chaves para o entendimento da realidade brasileira em especial e latino-americana em geral. Pretende-se discutir os projetos societários que caracterizaram os mais de 500 anos da chegada dos colonizadores nessas terras, em que os interesses econômicos dominantes (extrativismo, agricultura, agropecuária, indústria e especulação financeira) protagonizaram os embates entre forças democráticas e antidemocráticas, com implicações estruturais e superestruturais. Com base na interpretação do processo de colonização do Brasil e da América Latina, por Manoel Bomfim, e nos sucessivos embates ao longo do século XX, pretende-se discutir como a psicologia respondeu às demandas da educação, aliando-se às forças em contraposição. Assim, educação para a classe trabalhadora e educação para as elites expressam, no campo da educação, uma das particularidades dessa totalidade. Nessa perspectiva, especialmente no século XX, a psicologia foi chamada a responder aos projetos de educação aliados aos projetos de sociedade de grupos progressistas e conservadores, expressando e se vinculando a interesses históricos e sociais antagônicos. O avanço de projetos democráticos reiteradamente sofreu ataques intensos e espúrios dos setores dominantes. Enfrentar o quadro atual da educação e da psicologia da educação exige uma interpretação histórico-crítica que seja capaz de trazer à tona as múltiplas determinações da presente situação.

Martín-Baró, Psicologia Social e educação em tempos de guerra
– Thiago Sant’Anna Pereira
Há tempos que a literatura especializada registra uma aproximação entre a ciência psicológica e a temática da guerra. Os famosos testes Army alpha e beta, do início do século XX,são exemplos disso. Esse entrecruzamento deu-se muitas vezes aliado a interesses econômico-políticos alheios ao de uma ciência comprometida ética e politicamente com o desenvolvimento integral dos seres sociais. Dito isto, nossa proposta é partir das discussões feitas por Ignacio Martín-Baró, que viveu intensamente a guerra civil salvadorenha nos anos 1980, e teorizou sobre seus aspectos psicossociais, para alicerçar um debate acerca da função ideo-política tanto da educação quanto da psicologia social em uma conjuntura que desfavorece a democracia e destrói as possibilidades historicamente construídas pela classe trabalhadora na luta por uma sociedade emancipada. Ao problematizar tais aspectos em um confronto armado, o psicólogo salvadorenho ultrapassa as necessárias denúncias a respeito das dimensões destrutivas imediatas das armas e bombas, apontando, ademais, sobre como se dão as relações sociais (polarização social, por exemplo) e a (de)formação do psiquismo nesses conflitos. O Brasil sofre um retrocesso histórico que demanda apreensão concreta (por um lado, a vida cotidiana vem sistematicamente sendo invadida por escândalos políticos e, por outro, assistimos ao massacre perpetrado pelos dispositivos do Estado contra as classes exploradas; acrescente-se ainda o papel dos veículos de comunicação em momentos de instabilidade). Cremos que os educadores/psicológicos devem assumir responsabilidade histórica e tomar partido (o da ética) nesse confronto, que expõe as contradições do estado de direito burguês.

Conjunturas não democráticas: psicologia e desmonte de políticas públicas
– Antonio Carlos Caruso Ronca
A sociedade brasileira é profundamente marcada por desigualdades sociais que se manifestam das mais diversas formas. Asassimetrias estão presentes na pobreza e na discriminação racial. Atingemtambém as mulheres, pessoas com deficiências e se manifestam ainda nos diferentes níveis de desenvolvimento das regiões do Brasil. Essa situação é fruto de muitos fatores e para o seu enfrentamento será necessária a intervenção de políticas públicas especialmente elaboradas com tal finalidade. No Brasil de hoje constatamosuma realidade de restrições ao exercício de direitos sociais que estão expressos na Constituição de 1988, como por exemplo o acesso à uma educação pública de qualidade. No campo político nos defrontamos com ataques frequentes à democracia. Vivemos numa conjuntura não democrática. Na área da educação presenciamos alterações na legislação que podem significar um verdadeiro desmonte de políticas públicas que pretendiam contribuir para a redução das desigualdades.Neste simpósio pretendemos analisar as alterações propostas para o Ensino Médio, principalmente por meio da Lei 13.415, que se propõe a criar um “novo ensino médio”. As seguintes perguntas serão enfrentadas: estamos diante de uma efetiva política para a juventude? As mudanças propostas para o Ensino Médio contribuirão para a diminuição das desigualdades? Neste cenário, qual o papel da psicologia e especialmente da Psicologia da Educação?